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domingo, 27 de março de 2016

Palestra: Luiz Gonzaga: Cultura acústica e imagens de nordestinidade

O Professor Doutor Jonas Rodrigues de Moraes e o Professor Mestre e Músico Alfredo Werney farão a palestra musical “Luiz Gonzaga: Cultura acústica e imagens de nordestinidade”, no Salão do Livro de Pedro II-PI. A palestra se realizará dia 02/04/2016, às 16h. Confira no site:http://cidadeverde.com/pedroii/
75621/joao-claudio-moreno-abrira-salao-do-livro-de-pedro-ii

      

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

LANÇAMENTO LIVRO: MULHERES DO ARARIPE

RESUMO LIVRO MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004).

 Por Maria José Lopes Moraes de Carvalho

O livro “MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004)" busca, a partir da relação entre história e gênero, discutir, refletir e historicizar sobre o papel dessas mulheres na região da Serra do Araripe, especialmente nas cidades de Araripina-PE e Simões-PI. Em "Mulheres do Araripe" analisa-se o engajamento político-partidário das mulheres como sujeitos históricos e sociais, na conquista de cargos eletivos ou na participação dos processos eleitorais. Com efeito, o alvo maior desse trabalho é discutir o processo de inserção e envolvimento das mulheres na política institucional nas duas cidades em pauta, durante o período de 1982 a 2004. Outro objetivo pertinente para a elaboração da obra é a identificação das diferentes práticas e estratégias utilizadas pelas candidatas para conquistar votos nos processos eleitorais. Enfim, o que se intenta com a investigação proposta nesse trabalho é compreender, historicamente, a trajetória de lutas das mulheres no Araripe no exercício de participação e intervenção política nos processos eleitorais e nos órgãos públicos de decisões políticas.

Depoimentos sobre a obra
Falar sobre a pesquisa de mestrado MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004) e sobre a pesquisadora Maria José Lopes Moraes de Carvalho é uma honra, pois a pesquisa apresenta uma relevância impar para a consolidação do conhecimento científico na área. Ao ler o estudo, por várias, vezes vi a pesquisadora enquanto mulher do Araripe: rompendo barreiras e se firmando como agente transformadora do seu tempo. Obrigada, Mazé, por nos presentear com essa linda obra.
Dra. Bárbara Melo
Vice-reitora da Universidade Estadual do Piauí

O trabalho de Maria José Lopes Moraes de Carvalho, lançado agora em forma de livro, conta-nos a trajetória de vida de algumas mulheres do sertão do Piauí e de Pernambuco que, rompendo com interditos históricos, vêm nas últimas décadas de forma persistente, relativizando verdades aceitas que definiam o campo da política e da vida pública como espaços existenciais masculinos. O livro nos fala de mulheres que demonstram nas práticas cotidianas a capacidade de se envolverem na política, de atuarem nos espaços públicos com independência, dignidade e coragem, e de fazerem da política um espaço legítimo de atuação feminina.
Dr. Pedro Vilarinho Castelo Branco.
Prof. História – UFPI

Articulando fios da história esquecida das mulheres, temos uma tecitura cuidadosa e competente da atuação política de sertanejas do Araripe, evidenciando o compromisso ético-político da autora em reavivar as pegadas femininas na aridez da política nordestina.
Dra. Lucineide Barros Medeiros Profª. Pedagogia – UESPI

Maria José Lopes Moraes de Carvalho, em MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004) realiza  importante  discussão na confluência de duas dimensões  da história: gênero e política. A autora mostra aspectos do processo de conquista, por mulheres, de espaços marcados pela presença masculina: a política partidária nordestina e a representação institucional. Demonstra as dificuldades encontradas por esse sexo para a auto-afirmação e o permanente exercício de participação e intervenção política na região, bem como as estratégias colocadas em prática para contorná-las. Sua leitura oportuniza o conhecimento não só do universo feminino nordestino, mas como ele se entrecruza e se impõe à dominação masculina que é ainda uma das marcas do nordeste brasileiro.
Drª Valtéria Alvarenga - História Social–UFF
Profª. História UESPI E UEMA / CAXIAS-MA

Ao ressaltar a trajetória de lutas e representatividade politica de mulheres na região do Araripe, Maria José Lopes Moraes de Carvalho, em sua obra, reflete uma profunda ligação com a história de outras mulheres que rompem com o estigma de uma sociedade construída sob a égide do sexismo, do patriarcalismo, e, conquistam seu espaço público, contribuindo para um país mais inclusivo, justo e igualitário.
Naira Lopes Moura Professora da rede pública de ensino,
Ex vereadora do município de Campinas do Piauí (2008 a 2012). 

Lançamento do livro: "MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004)" 
Autora: Maria José Lopes de Carvalho.
Dia: 06/11/2015.
Horário: 20 h. 
Local: Casa Cultura de Teresina. 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

IV Congresso Nacional do Cangaço 2015

IV Congresso Nacional do Cangaço
de 27 a 31 de outubro de 2015
São Raimundo Nonato- PI


O IV Congresso Nacional do Cangaço, que terá como tema “Caatinga: Patrimônio natural e cultural” é um evento idealizado pela SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) com apoio das seguintes instituições: SEBRAE, Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Piauí (IFPI), Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), Governo do Estado do Piauí, Diocese de São Raimundo Nonato e Prefeitura de São Raimundo Nonato.
O evento é uma oportunidade singular e inovadora no sentido de promover a discussão em torno de questões que envolvem o processo de construção das representações sobre a Caatinga, Sertões, dentre elas o cangaço, a religiosidade, artes, identidades, enfim, sua própria historicidade; sem deixar de lado visão patrimonial e turística acerca do tema. A programação prevê conferencias, minicursos, mesas-redondas, simpósios temáticos, mostra de filmes, exposições fotográficas e diversas atividades culturais.



Quarta-feira 28 de outubro de 2015
16h30 às 18h30
Mesa Redonda 2
“A Representação Musical do Cangaço”
Coordenação: Vagner Ribeiro (PI)
Palestrantes:
Aurélio Melo -PI
Jonas Moraes -PI
Siba -PE
Agnaldo Ribeiro -PI

Confira toda programação  

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

“MÚSICA E PALAVRA NAS CANÇÕES DE CHICO BUARQUE E TOM JOBIM”

LANÇAMENTO DO LIVRO:
“MÚSICA E PALAVRA NAS CANÇÕES DE CHICO BUARQUE E TOM JOBIM”

O livro “Música e palavra nas canções de Chico Buarque e Tom Jobim”, de Alfredo Werney, surgiu a partir da dissertação de mestrado “A relação entre música e palavra: uma análise das canções de Chico Buarque e Tom Jobim”, defendida em julho de 2013 na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), sob a orientação Professor Doutor Feliciano Bezerra (que escreveu a apresentação do livro). A partir de uma linguagem fluente e de grande alcance analítico, o pesquisador se propõe a realizar um estudo das canções de Tom Jobim e Chico Buarque, que fizeram doze composições em parceria.  
Alfredo Werney, natural de Valença-PI, é graduado em Música pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Mestre em Letras (UESPI). Desenvolve um trabalho de Educação Musical em Teresina-PI há mais de quinze anos, já tendo sido professor da Escola de Música de Teresina e integrante da Orquestra de Violões de Teresina. Atualmente é professor de Educação Musical do Instituto Federal do Piauí (IFPI) e faz parte do Conselho Editorial da Revista “Desenredos”. Como músico, tem participado de vários congressos e shows pelo Brasil, realizando apresentações que conjugam música e literatura.
Por meio de uma análise que engloba conhecimentos da semiótica, da melopoética e das pesquisas de Mário de Andrade, o autor busca, em seu texto, compreender a canção popular como um discurso em que o sentido é construído através da articulação de componentes verbais e musicais. Alfredo Werney aponta as relações intertextuais que há entre as canções de Chico/Jobim e a moderna literatura brasileira, evidenciado aspectos como o uso da ironia, da paródia, da linguagem prosaica e da concisão poética.
A edição da obra “Música e palavra nas canções de Chico Buarque e Tom Jobim” ficou por conta da editora paulista Max Limonad. A produção do evento foi conduzida pelos professores Jonas Moraes e Daíse Cardoso. O lançamento do livro será realizado juntamente com o show musical “MEUS CAROS AMIGOS”, em homenagem aos compositores Chico Buarque e Tom Jobim. O show terá a participação, além do próprio autor, dos músicos Adelino Frazão e Silvana Ferreira – professores de música da cidade de Teresina-PI.

INFORMAÇÕES

LIVRO: MÚSICA E PALAVRA NAS CANÇÕES DE CHICO BUARQUE E TOM JOBIM
AUTOR: ALFREDO WERNEY LIMA TORRES
PREÇO DO LIVRO: R$ 30,00.
DATA DE LANÇAMENTO: 22/ 12/ 2014
LOCAL: LIVRARIA ANCHIETA (AV. NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, N 1557).
HORÁRIO: 18:00H                

CONTATOS: Alfredo Werney (89)9932-3538 (autor)
(86) 9422-1659
PRODUÇÃO: Daise Cardoso (89) 9921-5895

Jonas Moraes (86) 9949-4581

terça-feira, 20 de maio de 2014

MARCAS TRAZIDAS PELO SILÊNCIO, SOM E RUÍDO

Fotografia de Helen Warner


              Um espectro de harmonia
              cairá em todos os dias de sua vida,
              a “fumaça de grito e canto”
              fará proferir frequente
              pelos meus lábios teu nome
              sentiremos plenos...
              pois “a cinza sonora”
              são marcas trazidas pelo silêncio, som e ruído

              Os ecos de uma saudade-lembrança
              registrará nas infinitas palavras
              a tua presente-ausência 
              e o estrondo de teu corpo
              acalmará os maremotos
              que sagram do meu peito....

                                                      Jonas Moraes 

The. Verão, 2014

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

VARIAÇÕES SOBRE O BAIÃO


REVISTA DA MÚSICA POPULAR [Nº 5 - fevereiro de 1955] 
                            Por Guerra Peixe 

       Quer seja como dança ou música – cantada ou instrumental – o baião apresenta aspectos diversos, constituindo difícil tarefa traçar as suas características mais acentuadas. Isso naturalmente, devido à escassez de material colhido nas fontes genuinamente populares, que possibilitasse a comparação dos exemplares e a conclusão sobre a variedade que os documentos devem oferecer.
        Recentemente, Batista Siqueira assinala que “baião” é corruptela de “bailão”, ou melhor, de “baile grande” [Influência Ameríndia na Música Folclórica do Nordeste, pág. 72]. O autor se apóia em Gustavo Barroso ao explicar o processo de deformação da palavra na voz do povo brasileiro. O vocábulo não nos pareceria distanciado dessa origem se considerássemos os arcaísmos e populismos portugueses sobrevivendo no linguajar nordestino, embora tantas vezes tomando forma nacionalizada. Em Portugal se observa a expressão “balho” para enunciar o “baile” ou danças lusitanas, podendo advir daí essa forma brasileira que, no supor de Siqueira, nomeia o nosso baile popular. Ainda, o termo pode provir de outra fonte, pois “Baião” é o nome de um escritor português, mencionado na “Enciclopédia e Dicionário Internacional” [vol. X, pág. 5907]. Todavia, a palavra pode haver sido adotada em Portugal após o seu uso inicial no Brasil.
        Por outro lado, acredita-se que “baião” venha a ser corruptela de “baiano”, opinião da qual compartilham alguns dos nossos estudiosos mais autorizados, talvez por se julgar que a dança tenha se originado no lundu – uma forma musical popular que, em certa modalidade, se teria designado lundu-baiano. “Baiano” indicaria, então, a procedência geográfica: Bahia. Não obstante, o processo poderia ter se dado inversamente, quer dizer, de “baião” teria surgido a expressão “baiano”. Tal como o “Maneiro pau” – outra forma de dança popular – que nada tem a ver com Minas, embora seja este o modo pelo qual o nordestino chama o “Mineiro pau”. Ou, como na questão do “fardo português”, que os estudiosos, baseados nos mais antigos registros, afirmam haver sido criado no Brasil Colonial, sem que até hoje haja contestação e muito menos prova em contrário.
        Uma das mais salientes características do baião é sua desconcertante variedade, especialmente rítmica, contrastando fundamentalmente com esquemas estandardizados da discografia comercial popularesca e conseqüente esteriotipia dos seus valores mais destacados. 
        “Baião” e “baiano” são vocábulos que se aplicam indiferentemente a diversas manifestações populares de música e dança. Ele é ouvido, por excelência, no folguedo Bumba-meu-boi, e, sob este aspecto, é mencionado numerosas vezes por Gustavo Barroso e outros autores. Entretanto, cabe aqui perguntar: São baiões todas as peças musicais do referido divertimento? Evidentemente não, pois no Bumba-meu-boi há, por exemplo, o cântico da Pastorinha, a cantoria da partilha do Boi “morto” e, ainda, o velório dedicado ao “animal” – uma curiosa espécie de canto-fúnebre brasileiro. Afora estes, outros cânticos são ouvidos na folgança, sem que sejam exatamente baiões.
        É comum, no Maranhão, as orquestras populares executarem números de música, para dança, em que tomam parte cantadores. Quando as vozes se calam, um solista instrumental se destaca ao improvisar variações sobre uma base harmônica, para, algum tempo depois, os cantadores retornarem à cantoria. Esse interlúdio instrumental é destinado ao descanso das vozes, sem que a dança seja interrompida. Bem, o trecho instrumental improvisado é, lá, chamado baião.
        As Bandas-de-pife de todo o Nordeste executam o seu baião, como música instrumental. Consta de um pequeno tema sobre o qual os pifeiros improvisam infinitas variações. Acredito que essas Bandas executam também o baião cantado, pelo menos quando animam os bailes em que tomam parte.
        Passando por Conquista, cidade situada no Sul da Bahia, fui informado, por gente do povo, que ali se dança o baião. Este, porém, se assemelha aquela espécie de música que é conhecida por “tango”. Trata-se do “tango brasileiro”, ou “tanguinho”, cuja versão urbana também é conhecida por “maxixe”.
        Diferindo completamente em sua estrutura, baião é também a peça executada pela orquestra dos Cabocolinhos recifenses. Essencialmente instrumental, viva e apressada, tem lugar quando se realizam as manobras deste divertimento, isto é, nos momentos dançados e intercalados à sua representação dramático-coreográfica.
        Do sentido de música “alegre”, “variada” e “apressada”, parece haver surgido, do baião, a aplicação de vocábulos derivados, exatamente para reforçar a indicação desse sentido. Assim, a Banda-de-pife executa uma peça musical ainda mais acelerada que o baião, e que, como este, se compõe de variações sobre um tema: é a “abaianada”. Mesmo nos cultos africanos do Recife o termo fez a sua incursão, pois certo toque [espécie rítmica], quando executado em função do caráter austero de algumas “toadas”, é designado Moçambique. Se a “toada” não é muito “forte” e permite aos músicos o emprego de certas liberdades, estes colocam em relevo a sua capacidade de criação rítmica e a técnica de execução em conjunto, passando a fazer tantas variações quanto comporte a base rítmica do toque Moçambique. Agora, porém, o toque passa a se designar Moçambique-abaianado ou Moçambique-variado – ou, então, simplificando a tratamento, abaianado ou baiano. No modo variado, o toque exige aceleração do andamento, impulsionada pelo entusiasmo dos iniciados. O mesmo processo, com idênticas particularidades, é repetido no toque Batá-abaianado.
        As derivações referidas acima já deviam estar em uso no século passado, pois, Mário Sette [“Arruar”, pág.170], registra uma “modinha abaianada”, publicada no Recife antigo.
        Cabe aqui referir ao alegre repicar dos sinos das igrejas do Recife, que é chamado “baião”. O vocábulo, nesse sentido, vem caindo em desuso na voz popular, limitando-se quase que ao âmbito dos funcionários das igrejas. Convém salientar, eram os negros dos Maracatus os homens que antigamente, exerciam essa função nos templos católicos da capital pernambucana, advindo, dessa circunstância a semelhança dos seus toques com a música percutiva do Maracatu.
        Vimos, assim, que são diversas as manifestações musicais qualificadas de “baião” ou “baiano”, todas ligadas por traços comuns: alegria, variação e vivacidade.
        Mas “baião” tem outra importantíssima acepção: o toque que os cantadores nordestinos fazem em suas violas, entre a cantoria de um e a do seu parceiro. Esse toque, em sua forma mais simples, não passa de primitiva articulação da base rítmico-harmônica sugerida pelos bordões do instrumento. Outras vezes são criados fragmentos melódicos, à guisa de interlúdio – e ambos em contraste com a melodia das vozes. Aliás, Luiz da Câmara Cascudo, pergunta se esses baiões dos violeiros não seriam “reminiscências dos prelúdios e postlúdios com que os rapsodos gregos evitavam a monotonia das longas histórias cantadas” [“Vaqueiros e Cantadores”, pág.142]. O autorizado estudioso não atenta nos marcantes indícios que lhe possibilitariam esmiuçar a comparação, a fim de reforçar a inteligente interrogação. Se não, vejamos: Na Antiguidade, a poesia já se havia desenvolvido enormemente em comparação com a música, que apenas lhe servia para ressaltar as rimas. Depois, ainda em época remota, apareceram os instrumentos qualificados de “bordões”, tais como a cornamusa, a musette e outros do gênero, os quais produziam sons graves, prolongados e invariáveis. Adquirindo novos recursos, as melodias se foram tornando mais evoluídas, enquanto eram formados os modos escalares a que os historiadores chamam de “sistema grego”. A par desse desenvolvimento, os instrumentos acompanhantes passaram a intercalar sons intermediários entre os sons das melodias cantadas [como podemos reparar, ainda hoje, ouvindo alguns violeiros], processando uma elementar variação, à maneira das “variantes” que o pesquisador de folclore observa no material comparado. E mais tarde, no Madrigal. Acompanhado, surgiram os ritornelos – pequenos e repetidos interlúdios, separando os trechos cantados. Enfim, a cada passo adiantado no campo da expressão, a música se enriquecia, acrescentando à herança adquirida os novos recursos conquistados.

[Conclusão]

        Bem, na música do violeiro nordestino, tudo isso é evidente: a maneira de cantar, valorizando mais a poética do que a música; o insistente som grave, repetido [em lugar de prolongado] e invariável, executado no bordão da viola, assim como o pequeno interlúdio instrumental fazendo às vezes do ritornelo. Estes – bordão e interlúdio – caracterizando o baião-de-viola; as escalas dos modos medievais gregos e, não raro, as discretas primitivas variações [ou “variantes”] acompanhando a melodia vocal. Certamente, compreender-se-á que todas essas particularidades tomaram feição própria no Brasil, não lhes cabendo, a rigor, a terminologia tradicional, da qual me vali apenas para favorecer a comparação.
        Luiz Cascudo apresenta como sinônimo de “baião” [refere-se ao baião-de-viola] o termo “rojão”, esclarecendo que os baiões “desdobrados” [desenvolvidos?] “servem para dançar”.
        Além dessa modalidade de baião-de-viola há outra, em que, simultaneamente, o músico produz um ruído característico e ritmado no seu instrumento [no tempo superior e com as pontas dos dedos].
        Se um dos cantadores faz uso da rabeca – o violino rústico – o baião é feito neste instrumento, mudando, porém, a forma melódica de acordo com as possibilidades oferecidas pelas particularidades da própria rabeca.
        O rudimentar processo do violeiro executar o baião-de-viola dá, para os estranhos ao seu estilo de música, a impressão de imperturbável monotonia. Entretanto, ele é bem uma variação, uma vez que é feito com intento de contrastar com a voz. Dessa forma, o momento rítmico se sobressai com expressão própria, tanto pelo seu caráter instrumental quanto pela insistência do bordão, contrapondo-se ao timbre vocal e divergindo da linha melódica que alinhava a poesia.
        Portanto, a palavra “baião” e suas derivadas traduzem – pelo menos nos exemplos apontados – “alegria”, “variação” e “vivacidade”. E, ainda, “interlúdio”, já que se intercala às falas do Bumba-meu-boi às manobras dos Cabocolinhos e se entremeia à poesia dos cantadores.
        Algumas das formas de dança do baião, a que assisti, são de grande vivacidade, requerendo especial destreza na sua prática. A música, como vimos, apresenta variedade de processos, tornando perigosa qualquer conclusão por enquanto – embora já possam ser delineados alguns dos seus aspectos mais constantes. E a poesia permite abundantes combinações formais, abordando os assuntos mais diversos.
        A meu ver, “baião” – na sua multiplicidade de formas – é tão generalizado no Nordeste, que se pode equiparar – em diversidade – às manifestações populares qualificadas de “samba” e “batuque”, correntes em todo o Brasil. E é lamentável que a radiofonia atual não permita a sua divulgação, num tão oportuno movimento de renovação da música urbana.


PEIXE, Guerra. “Variações sobre o Baião”. “Revista da Música Popular”. n.5. fevereiro de 1955. In: MARTINS, Ismênia de Lima; SOUSA, Fernando (Orgs.). Coleção Revista da Música Popular. Rio de Janeiro: Funarte/ Bem-Te-Vi Produções Literárias, 2006.p.234 - 235 e 264. 

quarta-feira, 31 de julho de 2013

MEMÓRIAS ANCORADAS EM CORPOS NEGROS

O livro “MEMÓRIAS ANCORADAS EM CORPOS NEGROS” da Professora doutora da PUC/SP Maria Antonieta Antonacci foi lançado no XXVII Simpósio Nacional de História, evento que ocorreu de 22 a 26 de julho de 2013 na UFRN, em Natal - RN.

Sinopse

A natureza da preservação de africanismos na memória coletiva dos descendentes de heranças africanas tem desafiado os estudiosos brasileiros nas várias disciplinas humanas. Das perspectivas históricas e sociológicas às manifestações culturais e religiosas, enquanto tentam interpretar o impacto de africanismos retidos em várias práticas culturais. 
Memórias ancoradas em corpos negros é uma coleção de estudos independentes planejados para apreender evidências afrodiaspóricas, na originalidade de suas abordagens. 
É importante para melhor entendimento e interpretação do tecido cultural brasileiro, não só da perspectiva da preservação de elementos culturais africanos no Brasil, mas também do reconhecimento de seus significados em várias manifestações culturais, desde o contar histórias a designs iconográficos.

EDUC
2013 • 288 páginas • 16x23 cm
ISBN 978-85-283-0447-3 • R$ 50,00

Onde comprar:
Livraria Cortez
Livraria Cultura
Loja da PUC-SP